Como anda a saúde mental dos brasileiros em tempos de pandemia?

A pandemia da COVID-19 trouxe uma série de consequências e mudanças na vida dos indivíduos. O isolamento social, que se trata da redução das interações entre pessoas, a fim de que se reduza a propagação do vírus, é a principal medida de prevenção da doença indicada pela Organização Mundial de Saúde e que vem sendo adotada pelo Brasil e outros países. O isolamento, a quarentena – quando há restrição de indivíduos que possivelmente estiveram expostos ao vírus (Wilder, Freedman, 2020) – bem como as dificuldades econômicas, o medo de contrair a doença e perder entes queridos parecem estar afetando a saúde mental dos indivíduos, o que tem preocupado profissionais de saúde e pesquisadores da área de todo o mundo. Pesquisas realizadas em outros países têm indicado aumento e agravamento de problemas de saúde mental. Estudos realizados na China, primeiro país a ser afetado pela pandemia do coronavírus, encontraram alta prevalência de estresse, depressão, ansiedade e da combinação desses sintomas (Gao et al., 2020) e de problemas com jogos online. Outros países que iniciaram a pandemia antes do Brasil também têm publicado artigos que, embora não tenham resultados de pesquisas empíricas, mostram grande preocupação com a importância da prevenção e tratamento de problemas de saúde mental neste momento (Clay & Parker, 2020; King, Delfabbro, Billieux & Potenza, 2020; Thakur & Jain, 2020).

No Brasil, psicólogos e psiquiatras não tem medido esforços para trazer orientações que visam contribuir com a manutenção da saúde mental dos indivíduos, tais como rotina de trabalho, organização, prática de atividades físicas, boa alimentação e horário regular de sono, além do incentivo a práticas como mindfulness e respiração. Muitos profissionais têm também realizado lives nas redes sociais com o intuito de levar informações sobre conhecimento psicológico e psiquiátrico para a população e investido na realização de psicoterapia online. Tal prática já vinha sendo realizada por terapeutas cognitivo-comportamentais e psicólogos de outras abordagens após a Resolução 011/2018 do Conselho Federal de Psicologia (CRP), que regulamenta o uso de meios tecnológicos para tratamento. Já no contexto da pandemia, a resolução 04/2020 sedimenta a prática através da tecnologia para todos os psicólogos que são regidos pelo CRP e que seguem seus preceitos éticos. A mídia e as redes sociais têm investido na ampla divulgação dessas orientações e possibilidades de tratamento.

Nas próprias redes sociais brasileiras há diversos relatos, ainda que difusos, sobre a dificuldade das pessoas em lidar com esse momento da pandemia e do isolamento/quarentena. Recentemente, a Associação Brasileira de Psiquiatria divulgou um levantamento feito com psiquiatras de 26 estados e do Distrito Federal. Os profissionais indicaram que houve quase 50% de aumento na procura por atendimento. Além disso, observaram aumento do número de novos pacientes, aumento da recidiva de pacientes que já tinham recebido alta, e agravamento de sintomas como ansiedade, depressão, pânico e alterações do sono (ABP, 2020). No entanto, pouco se sabe sobre a situação atual da saúde mental dos brasileiros nas diferentes regiões do território nacional.

Com esta finalidade, pesquisadoras que seguem a linha cognitivo-comportamental do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Juiz de Fora estão conduzindo o estudo nacional “Saúde Mental na Pandemia da Coronavirus Disease 2019 (COVID-19): Um estudo brasileiro”, visando avaliar a saúde mental da população geral e de profissionais de saúde durante a pandemia. Os resultados deste trabalho podem auxiliar os profissionais, pesquisadores e gestores públicos na articulação de ações de prevenção e cuidado durante e após a pandemia.

Para mais informações sobre a pesquisa e outras discussões sobre saúde mental e terapia cognitivo-comportamental acesse a página do Núcleo Interdisciplinar de Investigação em Psicossomática, Saúde e Organizações da UFJF (NUIPSO)  nas redes: https://www.facebook.com/Nuipso-102750454782941

Referências

Associação Brasileira de Psiquiatria [ABP]. Atendimentos psiquiátricos no Brasil sofrem impacto da pandemia de Covid-19. Acessado em 12/05/2020. https://www.abp.org.br/post/atendimentos-psiquiatricos-no-brasil-sofrem-impacto-da-pandemia-de-covid-19

Clay J.M., Parker M.O. Alcohol use and misuse during the COVID-19 pandemic: a potential public health crisis? Lancet Public Health. 2020 May; 5(5): e259. doi: 10.1016/S2468-2667(20)30088-8. Epub 2020 Apr 8.

Gao J., Zheng P., Jia Y., Chen H., Mao Y., Chen S., Wang Y., Fu H., Dai J. Mental health problems and social media exposure during COVID-19 outbreak. PLoS One. 2020. 16;15(4):e0231924. doi: 10.1371/journal.pone.0231924.

King D.L., Delfabbro P.H., Billieux J., Potenza M.N. Problematic online gaming and the COVID-19 pandemic. J Behav Addict. 2020. doi: 10.1556/2006.2020.00016.

Thakur V., Jain A. COVID 2019-Suicídios: uma pandemia psicológica global. Brain Behav Immun . 2020. doi:  10.1016 / j.bbi.2020.04.062

Wilder-Smith A, Freedman D.O. Isolation, quarantine, social distancing and community containment: pivotal role for old-style public health measures in the novel coronavirus (2019-nCoV) outbreak. J Travel Med. 2020 Mar 13;27(2). pii: taaa020. Doi 10.1093/jtm/taaa020.


Escrito por:

Núcleo Interdisciplinar de Investigação em Psicossomática, Saúde e Organizações da UFJF (NUIPSO)

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