Emoções como ferramenta de mudança

As pessoas reagem de forma diferente às diversas situações a que são submetidas. Muitas vezes gostaríamos de ter outras reações a situações importantes para nós, como ficar menos ansioso durante uma exposição social, ou não paralisado diante e uma situação ameaçadora.

No entanto, não parece ser muito produtivo exigir a todo custo a supressão das emoções. Em geral, o que ocorre quando tentamos não sentir ansiedade, por exemplo, é justamente o aumento das sensações que a caracterizam. Isto mostra que a racionalidade ou a intenção de suprimir as emoções não é suficiente para, de fato, modificá-las. É necessário conhecer os fatores envolvidos no nosso processamento emocional, para, posteriormente, descobrirmos a melhor forma de manejo.

Segundo diversos estudiosos do campo, emoções podem ser definidas como um processo avaliativo de o quanto nossas demandas pessoais estão sendo contempladas por um ambiente ou contexto. Como consequência desta avaliação, ocorre uma série de respostas (fisiológicas, motoras e mentais) que prepara nosso organismo para agir a fim de modificar ou da manter o contexto em relação ao qual estamos expostos (Figura 1).

Por demandas pessoais podemos compreender desde necessidades fisiológicas como saciedade e equilíbrio térmico, até necessidades mais abstratas como a busca por reconhecimento ou realização pessoal.

Considerando que cada um de nós possuímos demandas pessoais diversas, é possível compreender por que reagimos de forma tão variada a situações semelhantes. E, se as demandas pessoais são o paradigma através do qual avaliamos o contexto, é possível que ao compreender as emoções compreendamos também o que é relevante para nós.

Algumas pessoas percebem suas emoções de forma dicotômica, ou seja, como sendo positiva ou negativa. No entanto, outras pessoas conseguem discriminar suas emoções percebendo nuâncias entre os diferentes sentimentos positivos negativos.

Se a emoção é um processo avaliativo que media nossa interação com o meio, ela nos prepara (motora e fisiologicamente) para realizar ações que visam a manutenção da nossa estabilidade, sejam elas de esquiva ou enfrentamento.

Seria possível que emoções difusas, pouco compreendidas e indiferenciadas nos levam a ações também inespecíficas? Ações inespecíficas, que visam a modificação genérica do contexto, seriam menos efetivas em nos ajudar a lidar com o contexto desfavorável? Vamos a um exemplo, se você está dirigindo e alguém freia de forma repentina, você pode ter raiva como emoção desencadeada, o que prontifica seu corpo a reagir de forma embativa com o obstáculo que lhe foi apresentado (a freiada realizada pelo condutor da frente).

Com a finalidade de modificar o ambiente a favor da sua estabilidade você tende a xingar o motorista. Seus xingamentos podem ser genéricos e pouco informativos do que realmente você espera ou esperava da atitude do condutor. É possível que você se sinta melhor, a princípio. No entanto, xingamentos genéricos possuem baixo potencial para modificar o contexto de uma forma que, de fato, o ajude a lidar com a situação.

Seguindo esta linha, foi pesquisado se as pessoas que diferenciavam melhor as emoções teriam também uma maior habilidade de regulação emocional. Vários desses estudos concluíram que não compreender o que sentimos dificulta o uso dos sentimentos como informações sobre a situação e sobre o que demandamos. Esta perspectiva mostra o quão importante é perceber as emoções como fonte de informações que irão permitir atingir a regulação emocional que gostaríamos ou demandamos.


Mais informações sobre estes tópicos, assim como a apropriação de estratégias de diferenciação emocional serão abordadas no curso Neurociência das Emoções.

Curso: Neurociência das Emoções | Dra. Isabela Maria Magalhães Lima - ATC-Minas


Referências:
Barrett, L. F., Gross, J., Christensen, T. C., & Benvenuto, M. (2001). Knowing wat you’re feeling and knowing what to do about it: Mapping the relation between emotion differentiation and emotion regulation. Cognition & Emotion, 15(6), 713–724. https://doi.org/10.1080/02699930143000239
Kashdan, T., & Farmer, A. (2014). Differentiating emotions across contexts: comparing adults with and without social anxiety disorder using random, social interaction, and daily experience sampling. Emotion, 14(3), 629–38. https://doi.org/10.1037/a0035796

Isabela Maria Magalhães Lima
Presidente da ATC Minas
Psicóloga pela Universidade Federal de Minas Gerais. Doutora e Mestre em Medicina Molecular (MM-FM-UFMG). Doutorado Sanduíche na Universidade da Califórnia - Berkeley. Pesquisa na área de aspectos automatizados do processamento emocional e neurociência clínica aplicada aos Transtornos de Humor. Atual presidente da Associação de Terapias Cognitivas de Minas Gerais. Atua em terapia cognitivo-comportamental, neuropsicologia e neurociência aplicada à Saúde Mental.

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